segunda-feira, 21 de setembro de 2009

SE MEU FUSCA FALASSE...


Se meu fusca falasse, o que não faltaria seriam histórias. Como algumas delas eu pude ser testemunha, e já que no último texto falei sobre ele, vou contar um causo sobre esse carro que, durante 4 anos, me deu muitas alegrias. Vale lembrar que, apesar de muita gente ainda ter esse modelo na garagem, não é comum um jovem conduzindo o “Besourinho”, o que dá colabora para aumentar a emoção dessas histórias.

A primeira viagem no fusquinha foi inesquecível e, mesmo sendo um percurso de apenas 200 km e numa reta, para ele, que já tinha mais de 30 anos, foi como ir para outro país. O destino escolhido foi Búzios, cidade mais visitada da Região dos Lagos, onde o surfe é predominante, mas ainda perde para a vida noturna, que costuma pegar fogo, principalmente em feriados. Por isso, assim como uma boa roupa e algumas camisinhas no bolso, a prancha era fundamental e não poderia ficar de fora.

Depois de convocar a turma – Casão, o dono da casa, e os grandes camaradas, Lino e Marcelinho – e colocar tudo na mala, a missão era dar um jeito de amarrar as tábuas no reck, que era até legalzinho, mas vai saber né? Comprei logo 6 extensores e prendi as pranchas da melhor maneira possível, sem deixar um espaço para contratempos.

Tanque cheio, oléo trocado, todos a bordo. Hora de zarpar! A cada fusquinha a gente cruzava, uma buzinada e a gargalhada da galera, que tava toda boba, não me pergunte o porque. Nem mesmo o calor que fazia ali dentro era capaz de estragar a nossa alegria. Afinal, feriadinho em BZ, casa galé e carrinho para ir às praias e boates era tudo que o quarteto precisava. O resto era com a gente mesmo.

“E ai, brow, como é que estão as pranchas?” Depois de repetir umas 20 vezes a mesma pergunta e ter a certeza de que parecia tudo OK com as pranchas, acabamos relaxando. Erro grave! Não fosse pela pelo sol e o vento e as 3 pranchas teriam virado asfalto. Um dos parafusos do reck já tinha ido para o espaço e o restante estava prestes a seguir ao seu encontro. Ainda bem que o barulho e a falta da sombra refletida na estrada ajudaram, e alguém percebeu o fato antes da tragédia ser consumada. Sorte a nossa e das nossas companheiras. Quem já perdeu alguma de suas tábuas sabe do que eu estou falando.

Exceto por esse pequeno empecilho, os dias seguintes foram maravilhosos e o possante nos levou para praias que não estavamos costumados a ir, com direito a altas ondas, camarãozinho e cervejinha gelada no fim de tarde. Além disso, deixar a van, meio de transporte obrigatório para menores de idade ou desmotorizados em BZ, e poder ir e vir para a noitada de carro próprio foi uma sensação e tanto, nunca antes experimentada por nenhum de nós.

Hora da volta! O parafuso estava consertado e, como a ida tinha sido tranquila e o fusquinha se comportado melhor que nós, parecia que não teríamos mais nenhum perrengue. Erro grave! Dessa vez, o que quebrou foi o cigarrinho do Lino. E se engana quem acha que o cara tava com um daqueles que passarinho não fuma e a polícia encrencou. A dura da polícia foi mole para nós e passamos sem problemas.

Mas na hora em que o couhupiloto da vez resolveu jogar uma quimba de cigarro pela janela, parece que o castigo por sujar a natureza foi dado por ela mesma. Sem que nenhum de nós percebessemos, o vento empurrou o cigarro para dentro do carro e, depois de alguns minutos, um cheiro de queimado, seguido de fumaça começou a subir do banco de trás, levando a galera ao desespero e me fazendo parar quase no meio da estrada. A brasa tinha entrado dentro do estofado e um incêndio estava prestes a acontecer. Felizmente, deu tempo de retirar a guimba e seguir viagem “tranquilio”.

Essa é apenas uma das várias histórias desse carro, que no momento está parado, mas muito em breve voltará firme e forte para novas aventuras, como o dia que resolvi subir a serra. Mas essa fica para a próxima. Vida longa ao meu fusquinha!

CIDADE DESESPERO


O Rio de Janeiro continua lindo. E perigoso!

Tudo bem que foi a primeira vez que isso me aconteceu em 23 anos de vida, mas foi um sensação muito ruim sair do mar, depois de quase duas horas de ondas excelentes, e perceber que haviam arrombado o meu carro.

A história começou numa quinta-feira à noite, quando vi na internet que o surfe de sexta prometia. A previsão era excelente e tudo indicava que iriam rolar altas! Liguei para o companheiro de todos os dias e combinei. “Amanhã cedinho tô chegando ai”. O cara mora mais perto de onde ficam as melhores valas.

Compromisso marcado, faltava definir como iriamos fazer para chegar até a praia.
Não dá para reclamar do bairro onde moro, mas que as ondas por aqui dificilmente quebram legal, isso é um fato.

Meu fuscão já não é o mesmo há muito tempo – pra falar a verdade, não está nem ligando - e subir até a Barra se torna uma missão bem mais complicada. O cara também estava sem carro!

Pegar um ônibus às 6 da manhã, com prancha, mochila e tudo mais de baixo do braço é chato pra cacete.

Dormir na casa do camarada, numa cama diferente da sua, e ter que pegar um ônibus às 10 da noite para chegar até lá, com prancha, mochila e tudo mais, é chato pra cacete

Agora éramos dois surfistas frustrados e já quase conformados, pois pelo menos dormiríamos até um pouco mais tarde.

Mas ainda restava uma alternativa: pedir o possante do meu coroa! Mamãe já não empresta mais o dela – por motivos de força maior -, e arrancar as chaves do meu pai também costuma ser bastante complicado. Mas as condições prometiam, lembram-se? Não custava nada tentar.

Liguei e consegui desenrolar com o velho, ouvindo apenas os velhos conselhos de sempre: “Muito cuidado com o meu carro. Ele está sob a sua responsabilidade”. Na mesma hora, liguei de novo para o camarada e dei a notícia: “Amanha cedinho tô chegando aí. E de carro!”.

Separei a prancha, arrumei a mochila, coloquei tudo no canto do quarto e marquei o despertador para às 6h30. Acordar cedo é chato pra cacete, mas, nesse caso, era por uma ótima causa. Valia muito a pena!

A sexta-feira finalmente chegou. Peguei o carro, busquei meu amigo e seguimos para a Reserva. Até que tinha alguma coisa, mas fechando muito. Macumba!? Nada. Prainha!? Maior Crowd. E o Recreio? Altas!

Parei o carro na hora, me enfiei de qualquer jeito no john, larguei as coisas no porta luvas, tranquei o carro e sai correndo que nem um cachorro atrás do osso para dentro d´água. Na hora que a gente chegou não tava tudo aquilo que a previsão anunciava, mas em pouco tempo a valinha começou a funcionar e o que não faltou foi alegria.

Era tubo pra direita, manobra para a esquerda! Tubo para a esquerda, manobra para a direita! Batida, rasgada, cutback... E depois das duas horas de surfe mais alucinantes na Cidade Maravilhosa, sai da água pronto para tudo que o resto do dia me proporcionasse. Bem, quase tudo!

Na hora que voltamos para o carro, alguma coisa estava errada! A porta estava aberta e todas as coisas dentro, reviradas!

“Qual é, cara, quando a gente saiu, o carro tava assim?”

Essa foi a pergunta do meu camarada, que se deu se por respondido, depois de ver minha cara, uma mistura de muito puto, com muito triste.

Acho que a única situação que poderia me tirar do sério era aquela... Tinham levado meu celular (um iphone lindo e cheio de guerigueri), meu dinheiro, o celular do cara, o dinheiro do cara (será que devo agradecer por ele não ter levado nada do meu pai e nenhum dos meus documentos?). Mas tudo aquilo era o de menos. Eu só conseguia pensar em como meu pai iria ficar, mesmo sabendo que isso poderia ter acontecido com ele e nada tinha sido feito de propósito.

Dito e feito. O velho ficou revoltado, me obrigou a pagar o conserto da porta e ameaçou nunca mais me emprestar a máquina. Agora, nem o papai e muito menos a mamãe.

Estou perdido. O Rio de Janeiro continua lindo, mas muito perigoso. E cada vez mais complicado eu ir surfar numa boa.

Preciso consertar o meu fusca!

BALI BAGUS!


Transport! Massage! Bagus, bagus!

Quem já foi até Kuta, bairro considerado o centro comercial e de entretenimento de Bali e onde se concentra quase tudo, exceto as ondas, sabe bem o que significa essas palavras. A quantidade de nativos tentando te empurrar desde uma simples massagem, até transporte de moto para onde quer que seja é impressionante e, muitas vezes, acaba torrando a sua paciência. Mas calma lá! Estamos no paraíso! Um simples, não, obrigado é mais do que suficiente.

A primeira trip para Bali ninguém esquece. Assim que pisei na ilha mais famosa da Indonésia, confesso, fiquei extasiado. Durante os primeiros dias, deixei a pranchinha de lado e cai mesmo nas nights, afinal, estava relativamente longe das notórias ondas e já havia passado dez dias intensos de muito surfe nas Mentawais.

Pessoas de todos os lugares do planeta: Austrália, Brasil, Japão, Holanda, França, Suécia, Suiça... se unem num clima de descontração, deixam de lado preocupações cotidianas e aproveitam para curtir momentos únicos e inesquecíveis. O sentimento parece ser geral e as coisas fluem como se todos estivessem no céu. O verdadeiro céu na terra!

Depois de algumas festas regadas a muita dança, Kratingdaeng (o verdadeiro energético local) e amigos brasileiros, que encontrei por acaso entre uma boate e outra, aluguei minha motoca – aqui, vale a sugestão: o preço é bom e vale a pena – e rumei para as praias, tendo como primeira escala Uluwatu.

De Kuta até a peninsula de Bukit, onde estão situadas essas máquinas de tubos para a esquerda, que fazem de Bali um paraíso para os surfistas, são aproximadamente 30 minutos, num trânsito caótico, que mistura carros, caminhões, motos, motos e mais motos e até charretes, mas que no fim das contas, todos se entendem.

Acho que no surfe, o momento mais marcante em Bali foi descer a caverna de Uluwatu, remar até o outside na maré secando e, nesse meio tempo, observar a galera colocando para dentro dos canudos na sessão conhecida como Inside Corner. Aquilo ali, para mim, foi emocionante e até hoje tenho esse momento guardado na caixola – e espero mantê-lo para sempre na memória.

Padang Padang não estava grandes coisas no dia em que cheguei, mas ficar na curta faixa de areia, pegando sol e observando as meninas, que sem o menor pudor, deixam a parte de cima do biquini dentro da bolsa, foi maravilhoso.

Mais alguns dias de festas, Mie Goreng (prato local na região) e compras, rumei para o outro lado da ilha, atrás de um pico conhecido como Keramas. Finalmente uma direita, depois de quaze 20 dias surfando apenas de backside e passando um veneno – confesso, meu surfe não é grande coisas, ainda mais de costas para as ondas. Mais um momento mágico... Tubos, manobras e muita discontração com a galera era tudo o que eu precisava para arrumar as malas e retornar ao Brasil. O rodo cotidiano sentia minha falta e mamãe já estava com saudades.

A volta é aquela hora que todos querem distância. Abandonar Bali e enfrentar trezentas horas entre avião e aeroporto, fuso horário e as ondas do Brasil não foi fácil, mas já prometi para mim mesmo que um dia aquele ilha terá minha presença novamente. Enquanto isso, restam as fotos e as lembranças, além é claro, dessas palavras, breves mas sinceras.