sábado, 13 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O Simpson


Antes de começar essa história, preciso de uma breve apresentação. Para os que não me conhecem, atualmente trabalho como repórter/redator/editor em um canal de televisão especializado em esportes de ação (leia-se surfe, skate, bmx, wakeboard, snowboard e qualquer coisa que “aumente a sua taxa de adrenalina no sangue”).

Feito isso, vamos ao que interessa. Em 2007, com pouco mais de 1 mês de casa, me enviaram para o litoral catarinense de Itajaí, na parte norte, com uma pauta na mão, um microfone na outra e um colega camera man.

Era um campeonato de surfe grande, mundial, com vários competidores de todos os cantos do planeta. Uma missão e tanto para um jovem jornalista, ainda na faculdade. Mas nada que a paixão por esse esporte e um pouco de determinação não resolvesse.

Entre as ordens da chefia, uma delas era ir atrás de novos talentos e fazer o que chamamos de short profile, ou em bom português, um rápido perfil do cara. O escolhido foi Brett Simpson, um garoto californiano no auge de seus 22 anos, um a mais do que eu.

O cara pegava bem, com um estilo bastante arrumado e um repertório de manobras que impressionavam, inclusive algumas da nova escola, como aéreos rodando e quilhas para todos os lados.

Acho que todo mundo que vive do surfe deveria ser bem humorado, já que é um emprego maravilhoso, principalmente os que efetivamente pegam as melhores ondas do mundo e ainda ganham para isso. Mas nem sempre isso acontece. Ainda bem que, nesse caso, Simpo me deu muita atenção e fez questão de responder tudo o que eu perguntei na maior boa vontade.

Local de San Clemente, primeira vez em Itajai, há dois anos lutando por uma vaga na elite, nada de canecos, ninguém da família surfando e um começo nada animador, com um primeiro campeonato bem fraquinho, e apenas uma onda surfada. Mesmo assim, ele continuou em busca de seu sonho.

E não é que deu certo?! Em 2009, ele não só conseguiu sua vaga na primeira divisão do surfe mundial, como se inseriu entre os melhores da nova geração. Para completar uma temporada mágica, Brett faturou um campeonato em casa, na praia de Huntington, que, talvez por sorte sua, talvez por competência, entregava um inédito cheque de 100 mil dólares, a maior premiação da história do surfe competição até então…

E você com isso? Talvez quem esteja lendo esse texto deva estar se perguntando isso e o porque de eu estar babando o ovo desse cara. Eu explico. Esse ano, mais precisamente na última semana de Janeiro, fui para mais um campeonato, com o mesmo microfone na mão, uma pauta nova, o camera man e um pouco mais de experiência e confiança.

Novamente, uma das pautas era Brett Simpson, agora com todo o status já mencionado anteriormente. Um excelente pano de fundo para que ele tivesse se tornado mais um desses competidores blazes e de nariz em pé. Ledo engano, o maluco continua maneirão e ainda lembrou da entrevista que eu fiz com ele, há quase 3 anos, sem eu nem mesmo falar do campeonato.

Confesso que fiquei feliz. Dentre os grandes, Simpson foi o primeiro que eu criei algum vínculo, uma das metas de todo o bom repórter, que procura aliados sempre prontos a ajudar na hora que o chefão manda fazer aquela super matéria.

Não me surpreenderia se um norte-americano, deslumbrado com o fato de ser um grande surfista e com alguns mil dólares no bolso não desse a mínima para mim e apenas respondesse meia dúzia de perguntas. Ou nem respondesse…

Felizmente, ele foi simpático, solicito e amigável, exatamente como da primeira vez, quando ainda era um sonhador com uma prancha debaixo do braço perdido no meio da selva brasileira. Para quem ficou curioso sobre o que foi conversado, a segunda entrevista está ai...

E fico na torcida. Primeiro pelos brasileiros, depois por Simpo!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A noite, todos os gatos são pardos


À noite, todos os gatos são pardos

“Mãe, estou indo surfar”.
Não fosse pela hora, bastante inusitada, o aviso seria apenas mais um, talvez respondido com um simples “o.k.”. Mas a cara que minha mãe fez, quando eu disse que estava indo pegar onda numa quinta-feira, às 11 da noite, deixou clara toda a sua desaprovação e preocupação. Ela não surfa, não entende. Mas, na verdade, nesse dia, nem eu mesmo estava entendendo direito o que estava acontecendo.

Como acontece todas as quintas, costumo sair do trabalho e ir tomar uma gelada no barzinho da faculdade. Mesmo depois de formado, não consigo deixar de frenquentar o famoso “Seu Pires”, em frente à PUC-Rio, e tenho certeza que aqueles que já foram lá, principalmente nesse dia da semana, me entendem. Para os que não conhecem, a cerveja não é das mais geladas e o crowd impera, mas é lá onde fica a maior concentração de mulher por metro quadrado. Qualquer coisa indescritível.

Detalhes à parte, tudo se encaminhava para ser mais um encontro entre amigos, apenas para contar as novidades. O mar estivera perfeito durante quase toda aquela semana, com ondas que chegavam a dois metros e diversos picos bombando, e um dos assuntos tinha sido justamente as façanhas da galera que pode aproveitar o swell. Só que a vida de trabalhador, infelizmente, não me permite mais surfar pela manhã em dias úteis e só o que me restava fazer era lamentar e ouvir as histórias dos mais afortunados.

Foi aí que meu camarada Paulinho, outro frequentador assíduo do Pires, anunciou que estava indo para casa, pegar sua prancha e partir para o Arpoador para fazer um surfe noturno.

“Qual vai ser? Partiu?”

Até aí, nenhuma novidade, já que essa prática vem acontecendo há algum tempo no Rio de Janeiro, e os mais fissurados não perdem um “Arpex” ou Itapuca de gala, seja de manhã ou à noite.

Mas naquele momento, aquilo soou para mim como uma grande oportunidade. Já surfei em onda grande, pequena, buraco, cheia, mas sempre com o sol sobre minha cuca. Nunca havia experimentado essa sensação em quase uma década de surfe levada a sério. Era a hora de arriscar.

Agora, vai explicar isso para quem não surfa. Por isso, não foi nada fora do comum, apenas muito engraçada a cara de pânico da coroa e toda a sua veemência ao me convencer que eu deveria era ficar em casa.

Sinceramente, não dei muita satisfação!

O cara já estava na portaria, me ligando, e só deu tempo de eu pegar a prancha, o john, uma toalha e dizer “Fui, mãe”. Mas confesso, estava assustado. O mar tinha um tamanho, o localismo no Arpoador não tem hora para acontecer e até para mim aquele surfe seria uma ousadia.

Quando a gente chegou na areia, se deparou com um cenário perfeito: altas ondas, com séries de um metro e meio, todos os holofotes acesos e, o melhor, NINGUÉM na água. Não me lembro de ter visto aquele pico quebrando daquela maneira sem uma alma viva no outside. A vibração foi enorme.

Saímos correndo e a primeira série veio daquele jeito: lambendo a pedra e formando aquela esquerda mágica, com uma parede que parece o braço de um gigante. A pranchinha estava pequena para as maiores do dia, ou da noite, mas não pensei duas vezes: me joguei em todas, tentando passar a primeira sessão voado, para depois começar a brincar.

Não estava com medo, mas a novidade me assutava um pouco. A luz só alcançava um certo ponto e, depois da terceira manobra, o resto era no instinto, já que o breu era pleno. Depois da primeira meia hora, relaxei e comecei a pensar como seria um tubo no escuro. Aquela visão, que só os que já andaram por dentro do salão sabem descrever, em um outro plano completamente diferente. Coloquei na cabeça que não sairia do mar sem pelo menos tentar. Tentei... Quer saber como foi? Também não sei. Na única oportunidade que tive, dropei atrasado, joguei pra dentro e só tive tempo de me atirar na água, desviando do Paulinho, que apareceu como um fantasma na minha frente e me preparando para o caldo.

Ficou para a próxima. Fui dormir feliz e aquela quinta-feira, que começou como outra qualquer e terminou como nenhuma outra, serviu para confirmar que o surfe é muito bom, seja de manhã ou à noite. Saí da água agredecendo a Netuno e a um cara que viveu há algum tempo, mas que se não fosse ele, meu surfe semanal estaria definitivamente vetado: Thomas Edison, o criador da lâmpada.

Obrigado Thomas!