terça-feira, 17 de março de 2009

O lúdico


O que dizer de Jamie O´brien, David Rastovich, Clay Marzo, Ry Craike e uma infinidade de outros surfistas que optaram pelo free surfe como filosofia de vida e sobrevivem muito bem dessa maneira? Será que esses caras surfam melhor que a turma do World Tour, que vive em função de competições e, muitas vezes, esquece o lado bom de estar em cima de uma prancha com os amigos ao redor e depois poder tomar aquela cerveja, sem grandes preocupações com o depois?

Uma coisa é certa: as melhores performances acontecem sem a pressão de ter que ganhar uma bateria ou se classificar para a próxima fase de um campeonato. Isso ninguém discute. Outra coisa que não entra em questão é a importância do free surfe para as competições. Um não existe sem o outro (aqui, obviamente, temos que considerar as sessões livres como forma de treinamento).

O crescimento do número de surfistas que deixam de lado o Circuito Mundial deixa no ar algumas dúvidas: o que é melhor - aparecer em capas de revistas no topo do pódio, com a prancha cheia de adesivos ou dentro de um tubo cavernoso, em um momento único, indescritível; pegar um final de tarde clássico no quintal da sua casa, mesmo que com um crowd chato ou surfar as melhores ondas do mundo com apenas 1 ou 2 ao seu lado, mas com a obrigação de ter que vencer e não poder arriscar tudo?

“Eu, definitivamente, fico muito desapontado e puto comigo quando eu perco”.

As palavras de Andy Irons fazem coro na maioria dos Top-45 e sua saída do Tour, junto com seu irmão, provam que as competições realmente desgastam. É preciso ter a cabeça no lugar para aguentar o ritmo das viagens, cobranças, solidão, desapego e todos os outros ônus de estar entre os melhores do mundo no chamado Tour dos Sonhos. 

A verdade é que, exceto por Kelly Slater, ninguém mostra nada de diferente em uma bateria. Nenhum dos outros 44 caras, considerados os melhores do mundo, entra na água com uma prancha diferente. Nenhum deles arrisca manobras diferentes. É so triquilha, 6'1 x 18 x ½ – com algumas pequenas variações – batidas, rasgadas, cutbacks e, graças a um ou outro, um aéreo no final da onda.

Por que isso? Porque não se pode arriscar quando é preciso vencer, quando o cara que paga as suas contas te obriga a subir no pódio, a estar sempre entre os grandes...

É por essas e outras que tem muita gente chutando o balde e voltando às origens. Não tem nada melhor do que poder cair no mar ao lado de 2 ou 3 camaradas, arriscar tudo o que você sabe, ou não sabe. E se cair... caiu! Volta para o outside e espera a próxima série para tentar de novo.

Que o diga a turma citada lá em cima. É por essas e outras que eles conseguem espaço na mídia. Não porque vencem um campeonato de julgamento subjetivo, onde você tem apenas 30 minutos, ou menos, para mostrar tudo o que sabe. Mas porque eles elevam os limites do surfe. Sempre!

Sejamos justos. Realmente não dá para dizer quem é melhor que quem se não for em uma competição, com algum critério de julgamento, mas nem sempre as condições são iguais para todos e isso acaba prejudicando um ou outro. Só quando existe uma disputa é que é possível mensurar um melhor e um pior, mas nem sempre a justiça é feita. Está para nascer um formato de competição capaz de colocar igualdade de condições.

A solução para esse embate? Não sei...

Por enquanto, o melhor a se fazer é continuar aproveitando a benção de Netuno e surfar sem pensar no depois. Se o mar tiver grande, tira a “gun” do armário e coragem! Se estiver pequeno, deixe a sua imaginação te levar e troque uma idéia com seu shaper, que ele te ajuda com as opções. Quem sabe você não esbarra com um Ry Craike ou um Bruce Irons e tenta se inspirar no surfe dele, que, com certeza, vai encher muito mais os seus olhos do que na maioria das baterias de um campeonato pelo mundo.

Parabéns Mineirinho:

 http://www.youtube.com/watch?v=1Yxu63Zj0xc  - Trajetória até o vice na Gold