sexta-feira, 12 de junho de 2009

A natureza e sua sabedoria


Fundinho de "brinquedo" na Nova Zelândia

Outro dia, conversando com um grande amigo, ele perguntou se era muito dificil, ou caro demais, construir fundos artificiais no Rio de Janeiro, para aproventar melhor algumas ondulações que encostam por aqui, mas que muitas vezes não geram boas condições.

Na mesma hora me lembrei de outro amigo que um dia me disse que, se o dinheiro lhe sobrasse, espalharia uns quatro ou cinco desses fundos pela costa carioca, só para ter seu nome lembrado como benefeitor do esporte e, é claro, poder surfar boas ondas mais perto de casa.

Com certeza o resultado imediato seria interessante, como termos ondas clássicas e constantes, e mais alternativas para um bom dia de surfe no Rio de Janeiro. Mas não sei até que ponto esses fundos artificiais só trariam benefícios. Não é preciso ir muito longe para imaginar os problemas que surgiriam, sendo o mais óbvio deles o crowd, que sem a menor dúvida cresceria muito naqueles locais.

Duas semanas depois de nossa conversa, fui parar no norte do Peru, mais precisamente em uma esquerda conhecida como Lobitos. Muita gente nunca ouviu falar nessa onda, que é, provavelmente, para mim e para os que já passaram por lá, um dos cinco melhores point breaks da América do Sul.

Aonde eu quero chegar com essa coisa de Lobitos e fundos artificiais?

Simples. Estou absolutamente convencido de que a natureza é sabia. Calma, eu explico... Lobitos só começou a funcionar de dez anos para cá, depois que o El Niño trouxe muita chuva para o norte peruano e arrastou toneladas de areia para o lugar onde as longas esquerdas agora quebram com perfeição, permitindo diversas sessões de manobras e tubos.

Já a bancada de Kirra, na Austrália, quebrou durante muitos anos com perfeição sem El Niño, atraindo surfistas de todo o mundo - e sendo o palco do único somatório máximo (30 pontos) na história do Circuito Mundial, com Shane Beschen em 1996 - até que a ação do próprio homem, que lá colocou um jato jorrando areia durante boa parte do dia, destruiu o fundo e acabou com a festa. O que resta agora é nostalgia e um esforço que envolve até o governo de duas cidades para tentar mudar a natureza, revertendo o quadro.

Conclusão: muito mais do que o homem, a mãe Natureza sabe o que faz.

Outro ponto que vale a pena ser lembrado na hora de pensar em melhorias para o surfe em nosso país: a participação do Estado...

Ao contrário da Gold Coast, uma região que respira surfe em todos os segmentos da sociedade, a criação dos fundos por aqui, provavelmente ficaria apenas nas maos da iniciativa privada.

Ainda falta muito para que governantes do Brasil olhem para o mar e pensem nele como uma possibilidade de investimento voltado para o esporte. Dá até vontade de rir (ou para alguns, de chorar...)! Mas a verdade é que o surf está longe de ser um esporte interessante para governo, e existe muita coisa a ser feita pelas autoridades antes de “construir” ondas.

Voltando a questão da Natureza, não sei quais seriam as consequências, a médio e longo prazo, desses fundos artificiais. O fato de o Rio de Janeiro e do restante do país não terem as melhores ondas e outros lugares sim, deve ser uma razão natural e devemos aceitá-la. Quem sabe daqui a alguns anos, um fenômeno como o El Niño chegua até aqui e nos traz algum benefício, nem que seja o de criar uma bancada de areia como a de Lobitos?

Creio que o melhor a se fazer é preservar o que ainda temos, sem jogar lixo nas areias, cuidando da fauna e flora local, e até “esconder” alguns lugares, se é que isso é possível. Não dá para abrir um jornal de grande circulação, que nunca teve no surfe o eu interesse principal - como foi o caso outro dia - e ver que alguém resolveu colocar uma onda até então secreta para jogo. Fica difícil assim!

Embora esta seja a ordem natural das coisas, e que, cada vez mais, lugares desconhecidos vão sendo descobertos mundo afora, é preciso que os “descobridores” estejam comprometidos com a causa: não adianta explanar uma boa onda e depois ficar reclamando do crowd.

Eu prefiro dizer que a natureza é sabia e somos nós que nos adaptamos a ela. Lutar contra é burrice!

Um comentário:

Anônimo disse...

Valeu cakin, sabia que tu escrevia numblog não. manero...
vo salva aqui nos favoritz, abraço meu garoto.